Uso de inteligência artificial no agronegócio
Como as aplicações de IA no campo vêm crescendo e abrindo novas oportunidades
Assuntos
No terceiro artigo da série especial sobre “Inteligência Artificial: Impactos na Saúde e no Agronegócio”, abordaremos o uso da Inteligência Artificial (IA) na indústria do agronegócio. No primeiro artigo tratamos do uso da IA em dispositivos e softwares médicos e, no segundo, detalhamos os aspectos referentes ao uso de IA na prestação de serviços de saúde e discorremos sobre a implementação da transformação digital conduzida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira. A eficiência e a melhoria da qualidade nos processos envolvidos na vasta cadeia de produção e distribuição dos produtos neste setor não só impactam importantes indicadores econômicos do país e potencializam os negócios entre as empresas envolvidas, mas também trazem mudanças práticas e rápidas para a vida da população que depende deste setor e contribuem para a adoção de soluções mais sustentáveis para o planeta.
Não à toa, portanto, o setor é um dos mais propensos à adoção de novas tecnologias. Apesar do uso de tecnologias agrícolas no campo não ser uma novidade – sistemas de GPS para aprimorar meios tradicionais de navegação, medição de áreas, determinação de coordenadas e armazenamento de dados, por exemplo, já ocorre há décadas –, o avanço contínuo das tecnologias de processamento de dados, sensores, softwares agrícolas, drones e veículos agrícolas trouxeram benefícios relevantes, melhorando atividades de análise do solo, controle de produção, monitoramento e segurança dos campos e gerenciamento e planejamento de safras, conforme detalharemos abaixo.
Indústria em crescimento
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae, a estimativa é que o mercado de IA na agricultura cresça 25,5%, de 2020 a 2026, impulsionado pelo crescente uso de dados, sensores e de imagens aéreas para culturas, aumentando a produtividade por meio de tecnologias de aprendizado de máquina.
Atento ao uso desta IA como uma aliada para facilitar serviços e manter a competitividade no setor, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) participou, em fevereiro de 2024, da seleção pública de “Soluções de IA para o Poder Público”, organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A referida seleção pública tem como objetivo promover o uso de IA em soluções adotadas pelo Poder Público Federal. Nesse sentido, os projetos apresentados pelo Mapa visam facilitar consultas a informações agropecuárias, por meio do uso de linguagem neural (como nas ferramentas de IA generativa disponíveis no mercado), e fornecer maior assertividade em análises documentais e operações de fiscalização.
Como resultado da seleção, as iniciativas do Mapa devem receber apoio e suporte financeiro para o desenvolvimento das tecnologias propostas.
Aplicações de IA no campo
A implementação de sistemas de IA apresenta diversos benefícios para o campo em razão da coleta e processamento de um alto volume de informações, análise de dados, apoio na tomada de decisões e capacidade de automatizar processos. As principais aplicações de inteligência artificial no campo incluem:
-
GPS:
Uma das primeiras aplicações a serem utilizadas no campo, o GPS é comumente utilizado na demarcação de áreas para otimizar a gestão de terras e maximizar a eficiência na agricultura;
-
Sensores inteligentes:
Os sensores podem ser utilizados para monitorar parâmetros como umidade do solo, temperatura, umidade e qualidade do ar, previsões do tempo entre outros fatores. A partir da integração com a IA, tais sensores permitem previsões precisas do tempo e medições detalhadas. Essas informações são essenciais para uma tomada de decisão informada e estratégica por parte dos agricultores;
-
Softwares agrícolas:
Os softwares agrícolas são outra ferramenta relevante para analisar informações em tempo real, fornecer relatórios detalhados aos produtores e permitir uma gestão mais eficiente dos recursos. Impulsionados pela IA, essas ferramentas podem aprender de forma automatizada com os dados coletados e imputados, melhorando a capacidade de decisão pelos agricultores e aprimorando suas capacidades de precisão;
-
Câmeras de campo e drones:
O crescente uso dessas aplicações também está se tornando comum no Brasil, auxiliando na demarcação de áreas, na geração de mapas precisos, na pulverização agrícola e na detecção precoce de pragas e doenças, permitindo uma resposta rápida e eficaz para proteger as plantações. Também podem ser utilizados para monitoramento de gado, contagem de animais, monitoramento do comportamento do rebanho e identificação de animais feridos ou perdidos em áreas agrícolas;
-
Veículos Agrícolas Autônomos (VAAs):
Estão sendo cada vez mais utilizados para tarefas como plantio, colheita e pulverização agrícola, proporcionando uma automação ainda maior e aumentando a eficiência operacional. Nesse cenário, a IA pode ser uma aliada para identificar e classificar produtos maduros no campo, coordenar os movimentos dos VAAs para evitar colisões e otimizar os resultados das colheitas;
-
Plataformas digitais:
Por fim, as plataformas digitais dedicadas à inovação e ao agronegócio estão facilitando a troca de conhecimento, o desenvolvimento de novas tecnologias e a colaboração entre diferentes partes interessadas do setor agrícola. Essas plataformas estão impulsionando a adoção e o desenvolvimento contínuo de soluções baseadas em IA para atender às demandas em constante evolução da agricultura moderna.
A partir de uma visão ampla do negócio e de informações mais precisas, os sistemas de IA permitem antecipar riscos e ameaças. Consequentemente, também permitem auxiliar na tomada de decisões, redução de custos e aumento da produtividade.
Providências para uso de IA
Até o momento, não existe legislação específica que regule o uso de ferramentas de IA na agricultura. Autoridades com papel relevante no setor, como o Mapa, têm fomentado a digitalização no campo e a adoção de novas tecnologias por meio de planos de ação multisetoriais e programas governamentais, como é o caso da Câmara do Agro 4.0, lançada em 2019 pelo Mapa, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Apesar da inexistência de lei – específica ou geral – sobre o uso da inteligência artificial, recomenda-se que quaisquer grandes projetos envolvendo uso de IA sejam realizados em conformidade com princípios éticos e boas práticas, incluindo a adoção de códigos de condutas adequados para cada solução. Além disso, é crucial que a negociação de contratos, seja para o desenvolvimento ou a contratação de soluções de IA, considere essas diretrizes.
Portanto, lidar com os desafios apresentados pela inteligência artificial exige uma abordagem colaborativa e multidisciplinar entre governos, autoridades setoriais competentes, empresas e agricultores para que esta seja implementada de forma inclusiva e sustentável no setor.
Para mais informações sobre o uso de inteligência artificial no agronegócio, acompanhe a série especial das práticas de Tecnologia, Life Sciences e Saúde e Agronegócio do Mattos Filho.