A diversidade como valor corporativo
Tema deixou de ser conveniência para se tornar uma necessidade para empresas que querem potencializar a inovação em seus negócios e promover uma sociedade mais justa
A cultura das corporações é formada por um conjunto de valores, que, em geral, refletem seus propósitos e a forma como os perseguem. De maneira geral, não há uma cultura melhor do que a outra, mas, sim, aquela com a qual nos identificaremos mais ou menos. A cultura organizacional interfere diretamente nas relações entre as pessoas, no ambiente de trabalho e, consequentemente, na percepção (ou não) de pertencimento, um dos fatores mais relevantes para reter ou afastar um profissional.
Daí a importância de a corporação cultivar valores que a levem a identificar o tipo de profissional que pretende atrair e o tipo de público que quer influenciar, dos clientes aos concorrentes, até todo e qualquer stakeholder com quem se relaciona.
Cabe um alerta: os valores que se pretende disseminar não podem se limitar a um quadro na parede ou a uma carta de (boas) intenções. Os valores só estarão refletidos na cultura corporativa se e quando estiverem realmente incorporados às práticas, às políticas, às decisões e, especialmente, à estratégia da empresa.
Se o discurso se dissociar da prática e os valores se tornarem letra morta, provocarão o efeito contrário: descrença, frustração e desengajamento. Afinal, quantos profissionais não deixam suas ocupações sob a alegação de que o discurso da liderança não condiz com a prática, não é mesmo?!
Dito isso, temos a diversidade como um dos principais valores corporativos a serem cultivados. Em primeiríssimo lugar, porque é o certo a fazer. A diversidade torna a sociedade mais justa. É por meio dela e da inclusão que oferecemos oportunidades a todos, especialmente àqueles que organicamente não as teriam. E, é importante que se diga, a meritocracia só existirá se as oportunidades forem oferecidas a todos e se todos estiverem saindo do mesmo ponto de partida. As corporações, neste contexto, possuem um papel crucial na sociedade na medida em que são os stakeholders que formam os profissionais, contribuindo para seu crescimento e desenvolvimento de suas carreiras.
Impactos nos resultados
Diversos estudos mostram que empresas que cultivam diversidade e inclusão como valor apresentam melhores resultados. Por quê? Comecemos pelo óbvio: incorporar a diversidade significa melhorar o clima organizacional e ampliar seus horizontes, inclusive e principalmente para que se possa identificar, atrair, formar e reter talentos diversos. Basta imaginar, por exemplo, que, em um ambiente puramente masculino, uma mulher não teria referências para se inspirar e teria maior dificuldade de construir uma carreira de sucesso.
As corporações que se limitam a um único ou a poucos perfis de profissional estarão naturalmente limitando a base de onde virão seus talentos. Pessoas diversas tendem a ter diferentes skills, e a complementariedade é uma ferramenta poderosa, que impulsiona a (alta) performance. Equipes diversas tendem a ter melhores resultados, com cada um contribuindo com o que tem de melhor e colaborando para que 1 + 1 seja muito mais do que 2.
A diversidade permite também que as corporações possam atender perfis diferentes de clientes. Equipes diversas dialogam com públicos diversos. Não há dúvidas de que isso reflete também na capacidade de a empresa se comunicar com o público externo. Soluções, produtos e serviços terão maior alcance se forem idealizados, projetados e desenvolvidos por um grupo diverso que, naturalmente, considera as necessidades dos também diversos grupos de consumidores e clientes.
É por isso que diversidade também é, em muitos casos, sinônimo de inovação. Grande parte daqueles que estiveram à margem das escolhas óbvias tiveram que buscar caminhos e alternativas não óbvias para alcançar seus objetivos. Seja por vocação ou por necessidade, podem se tornar vetores de transformação e inovação nos ambientes em que forem inseridos. Vale a máxima de que, se só tivermos pessoas iguais fazendo as mesmas coisas, é muito provável que cheguemos aos mesmos resultados.
Novos desafios
Diversidade, portanto, diminui a resistência às mudanças, nos leva a pensar e fazer diferente, a sair da zona de conforto, a desafiar crenças e convicções, o que pode fazer muito bem às corporações e às pessoas. A rigidez nos limita na elaboração de soluções criativas em um ambiente cada vez mais complexo e rico de possibilidades.
Além disso, a diversidade nos desafia a olhar questões sob perspectivas diferentes, nos ensina a compor, a negociar e a dialogar com interlocutores que pensam e enxergam diferente de nós e, nessa medida, aprimora processos de tomada de decisões.
Diversidade deixou de ser conveniência e oportunidade para se tornar uma necessidade. O mundo mudou. Nem todas as corporações estão preparadas para essas mudanças. Mas aquelas que se adiantarem e tratarem a diversidade como valor corporativo, como princípio e, especialmente, como estratégia sairão em vantagem e estarão mais bem preparadas para os novos desafios.
Esse conteúdo integra a série Mulheres e Negócios, de autoria do grupo de afinidade 4Women, que faz parte do programa de Diversidade, Equidade e Inclusão do Mattos Filho.
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