A voz feminina na era digital
A evolução de negócios depende de maior inclusão de mulheres, pois a diversidade favorece processos de inovação, traz maior competitividade, e torna o uso de novas tecnologias mais igualitário
Vivemos em uma sociedade cada vez mais digital, em que a integração entre empreendedorismo e inovação foi extremamente impactada pelos reflexos da Pandemia da Covid-19, acelerando os processos de digitalização dos negócios. No entanto, a estruturação de equipes diversas para a criação de novos negócios e o desenvolvimento de novas tecnologias ainda carece da inclusão de mulheres para formação grupos mais inclusivos.
O Fórum Econômico Mundial (WEF) estima que, até 2030, 77% dos trabalhos exigirão habilidades relacionadas à tecnologia. Apesar da crescente demanda por especialistas nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, na sigla em inglês), a baixa representatividade de mulheres neste grupo é evidente. Segundo relatório da Unesco, apenas 30% dos estudantes de ensino superior em todo o mundo escolhem seguir carreiras em STEM. Na mesma linha, a ONU Mulheres, em 2018, já ressaltava em seus relatórios que as mulheres estavam fora dos principais postos de trabalho da era digital, por possuírem apenas 18% dos títulos de graduação em Ciências da Computação e representarem somente 25% da força de trabalho da indústria digital.
A baixa representatividade de mulheres no ambiente de tecnologia e inovação acentua problemas como vieses de design de produtos e de algoritmos de inteligência artificial, exacerbados pela falta de diversidade. Vivemos em um mundo em que novas tecnologias ainda são criadas sob a perspectiva de um grupo muito específico e pouco diverso.
Tomem como exemplo o fato de que, por anos, testes de uso de “airbags” em acidentes automobilísticos foram realizados com bonecos projetados a partir de um corpo de biotipo exclusivamente masculino, sem levar em consideração características típicas do sexo feminino, como aspectos de biomecânica, alinhamento da coluna, força muscular e outras. A falta de manequins “femininos” para testes de colisão em muito contribuiu para o resultado da pesquisa realizada pela American Public Health Association, de que mulheres envolvidas em acidentes com automóveis têm, aproximadamente, 47% mais chances de serem gravemente feridas em relação a homens envolvidos em acidentes similares.
Gestão de negócio
Na maioria dos ecossistemas de inovação, as mulheres experimentam menos oportunidades de participação e liderança. Elas enfrentam desafios únicos na criação e gestão de um negócio, incluindo a dificuldade de acesso a fontes de financiamento, rede de contatos e falta de equidade de gênero no ambiente de trabalho com diferenças salariais significativas, além de situações de assédio.
De acordo com estudo desenvolvido pelo Silicon Valley Bank, em 2020, apenas uma entre quatro startups norte-americanas possuíam uma fundadora mulher. No Brasil, o cenário não é muito diferente. Segundo relatório do LayOffs Brasil, as mulheres representam mais da metade da força de trabalho atingida pela onda de cortes de funcionários em startups e empresas de tecnologia brasileiras.
Vivemos em uma sociedade diversa que demanda tecnologias que sejam desenvolvidas por grupos também diversos. A presença de diferentes perspectivas e experiências leva a soluções mais criativas e inovadoras.
Empreendedorismo feminino
Sob a ótica do empreendedorismo feminino, equipes diversas também apresentam melhor desempenho de suas empresas e conseguem atrair e reter times mais talentosos e engajados em relação àquelas que não focam em diversidade e inclusão. O empreendedorismo feminino gera um impacto significativo na economia, já que as mulheres têm uma maior probabilidade de investir em suas comunidades locais, empreendendo com um propósito social. Empresas fundadas ou lideradas por mulheres têm maior probabilidade de serem socialmente responsáveis e sustentáveis, além de terem uma cultura empresarial mais colaborativa e inclusiva.
Apesar de empresas fundadas por mulheres ainda representarem apenas 25.5% do total de transações em venture capital nos Estados Unidos, pesquisa recente da Pitchbook (“All In: Female Founders in the US VC Ecosystem”) demonstra que, enquanto a atividade de capital de risco demonstrou forte declínio em 2022, em relação aos recordes históricos de 2021, as mulheres fundadoras seguiram resilientes diante de um mercado mais difícil, tendo fechado transações com valores acima daqueles contratados em períodos anteriores a 2021.
A inclusão feminina é fonte vital para a inovação, criatividade e competitividade entre empresas, sendo essencial para o desenvolvimento de novas tecnologias. Empresas que promovem a diversidade de gênero, incluindo grupos diversos em suas operações e desenvolvimento de produtos e serviços estão mais preparadas para enfrentar os desafios macroeconômicos da atualidade.
Diferentes perspectivas e experiências propiciam soluções mais criativas e inovadoras que beneficiam a sociedade como um todo. Em tempos de forte aceleração do desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial, líderes devem se engajar na pauta de maior inclusão feminina em seus times.
O desenvolvimento e a integração de tecnologias também podem servir de ferramenta para conquistarmos igualdade de gênero. Processos de inovação podem ser aproveitados para desenvolver novos serviços e produtos que atendam a necessidades das mulheres. Temos, ainda, que aproveitar a intensa transformação digital em que vivemos para empoderarmos todas as mulheres a abordar as principais questões que afetam seus direitos na era digital.
Como parte integrante do ecossistema de inovação, devemos incentivar a diversidade e valorizar a inclusão, apoiando o empreendedorismo feminino e a participação de mulheres em cargos de TI e posições de liderança.
Mulheres precisam de voz nos avanços tecnológicos. Sigamos resilientes!
Esse conteúdo integra a série Mulheres e Negócios, de autoria do grupo de afinidade 4Women, que faz parte do programa de Diversidade, Equidade e Inclusão do Mattos Filho.
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