As inovações do investimento social privado
Especialistas do Mattos Filho abordam temas da agenda de investimento social privado e o papel do compliance no combate às desigualdades como apoio a organizações de base
As ações de investimento social privado têm sido cada vez mais conectadas às estratégias empresariais, buscando potencializar os investimentos realizados com as demandas sociais e ambientais decorrentes dos negócios. Nesse contexto, soluções tecnológicas permitem quebrar algumas barreiras que o investimento social privado tradicionalmente enfrenta, especialmente relacionadas ao mapeamento das iniciativas a serem apoiadas e as causas a que se relacionam, reduzindo o custo transacional e facilitando a sua realização de maneira qualificada por empresas e outras organizações financiadoras.
Nesse cenário , especialistas do Mattos Filho promoveram, impulsionados pelo programa de inovação attix – que conecta startups nacionais e internacionais ao escritório e empresas de diferentes setores, e em parceria com a social tech Simbi, o evento Inovações do investimento social privado, realizado em maio de 2023, visando a incentivar reflexões fundamentais sobre o tema e abordar a perspectiva de empresas e seus veículos líderes na cena do investimento social, bem como o papel das organizações e do compliance no combate às desigualdades e viabilização do apoio a projetos de base.
Potencial de crescimento do investimento social privado no Brasil
O cenário e potencial de crescimento dos investimentos sociais podem ser traçados a partir de um paralelo entre dados do Brasil e EUA, disponíveis em uma fotografia de 2020. Segundo dados apresentados pela Simbi, no Brasil, os investimentos sociais representavam 0,14% Produto Interno Bruto (PIB), que equivaleriam a R$ 10,3 bilhões, enquanto, nos EUA, esse percentual chegava a 2% do PIB, equivalentes a US$ 420 bilhões.
Atualmente, há três pautas que se destacam como prioridades para um grande número de atores dedicados ao estudo e financiamento de projetos de investimento social privado no mundo:
- Mudanças climáticas;
- Manutenção das democracias, especialmente fake news e distorção de algoritmos;
- Combate às desigualdades.
Transversalidade e uso de dados como tendências
A busca pela eficiência na realização de investimentos sociais continua um tema prioritário, bastante influenciada pela tendência de se buscar a transversalidade de investimentos, abordando oportunidades de forma mais profunda e com mais de uma pauta.
Em alguns casos, a assimetria de informações entre investidores institucionais distintos acaba perpetuando desigualdades. Por exemplo, regiões que recebem bons investimentos sociais para fortalecer a educação, mas convivem com problemas mais graves, como a falta de moradias dignas e saneamento básico.
Por isso, o uso de dados para a tomada de decisões está em alta e empresas já começam a testar integrações com ferramentas de inteligência artificial para alavancar essa prática.
Referente ao novo perfil de organizações a serem apoiadas, é cada vez maior a presença dos negócios de impacto entre as organizações candidatas a receber investimentos. Aqueles capazes de combinar geração de impacto positivo com geração de lucro têm sido cada vez mais beneficiados, seja pelos aportes retaliados diretamente pelas empresas ou por institutos e fundações contemplados, numa mudança de percepção do modelo de investimento social tradicional para um ecossistema de inovações sociais.
Utilizando a destinação de impostos com qualidade
A utilização de incentivos fiscais ainda é um importante fator de propulsão dos investimentos sociais no Brasil. Para tanto, é essencial que a destinação de impostos das grandes organizações financiadoras seja realizada com qualidade, guiada por um planejamento prévio e revisões de estratégia contínuas, em sincronia com recursos tecnológicos ligados à transformação digital e com boa gestão de riscos de compliance.
Hubs de inteligência social podem ser um caminho para uma maior coordenação das organizações financiadoras e acompanhar as novidades jurídicas regulatórias sobre o assunto também é fundamental, a exemplo das novas regulamentação do sistema de fomento ao financiamento da cultura e a lei de incentivos à indústria de reciclagem.
Um dos desafios para a gestão de investimentos sociais e destinação de impostos, por sua vez, é o grau de maturidade de compliance das organizações em estágio inicial e com origens em comunidades marginalizadas e mais vulneráveis.
Para superar esses desafios, é fundamental tratar a área de compliance como parceira, visando à gestão inteligente dos riscos e à redução de assimetrias de informação.
Reprovações em auditorias e due diligences de compliance são sintomas da desigualdade
Dados da Simbi demonstram que as organizações que pleiteiam menos recursos são as mais reprovadas no cenário atual de reprovação das auditorias realizadas em organizações de base para recebimento de recursos. As reprovações se dão, em sua maioria, pela falta de documentos e pela dificuldade em se estruturar juridicamente.
A equidade racial também é um grande desafio quando tratamos da redução das desigualdades no Brasil. As organizações reprovadas em auditorias e due diligences de compliance costumam ser as de perfis superpopulares, como as que estão em territórios quilombolas, que tratam de povos originários ou populações ribeirinhas. Ou seja, as organizações que não têm acesso a recursos e, por isso, não têm uma estruturação institucional adequada, o que acaba gerando reprovações.
Uma tendência para tentar sanar essa desigualdade é o uso de protocolos ESGs nas empresas para diminuir o desiquilíbrio racial e a utilização de métricas adequadas para sua aplicação.
Repensando políticas e procedimentos internos de compliance
As empresas e financiadores mais sofisticados devem procurar repensar e simplificar políticas e procedimentos internos para contemplar, na medida das suas desigualdades, a realidade das organizações iniciantes e menos maduras em termos de formalização e compliance.
É comum que essas empresas não consigam atingir, logo de primeira, o alto grau de exigência aplicado a fornecedores em geral. No entanto, a mudança apenas acontecerá estimulando o diálogo e ações concretas por meio dos conselhos de administração e executivos, com o suporte alinhado entre a área (ou instituto ou fundação) que faz a gestão das ações de investimento social do grupo e o compliance.
Um dos riscos que se quer evitar com a inadequação dos fluxos de compliance é uma miopia na visão do risco, com exigências que não fazem sentido para organizações e negócios sociais em desenvolvimento, as quais, caso não atendidas, reprovam o candidato à luz do apetite de risco definido pela empresa.
Caminhos para o combate às desigualdades nos investimentos sociais
É natural que as organizações mais sofisticadas e desenvolvidas liderem seus fornecedores e parceiros no processo de aumentar o nível de formalização, profissionalização e compliance, mas essa jornada envolve apoio efetivo.
Além da capacitação e apoio financeiro direto, algumas ações podem ter impactos sistêmicos para todos os atores do sistema de investimentos sociais, entre elas:
- Internamente nas empresas, ao rediscustir as políticas, processos, procedimentos e apetite a risco;
- Por meio do financiamento e apoio a instituições catalizadoras da mudança, que possuem por objeto, entre outras coisas, certificar e apoiar organizações menos desenvolvidas ou marginalizadas;
- Ao realizar uma ação coletiva, coordenada por empresas e financiadores capazes de influenciar todo o universo de investidores, organizações e negócios sociais.
Por trás todo CNPJ há um CPF. Por trás de todo projeto social, há histórias humanas de superação e de pessoas que construíram e moldaram essas iniciativas de modo a diminuir as deficiências do país.
A base de confiança no investimento social privado é de suma importância e, por isso, é necessário que quem tem o poder de tomada de decisão procure se informar sobre os projetos, entenda as necessidades das comunidades e dialogue com os líderes das comunidades que estão realizando essas transformações.
A transformação está na ponta e não nos grandes centros de negócios, que são o combustível para gerar mudanças. Por isso, é fundamental que aqueles que estão liderando esses projetos sejam ouvidos pelos gestores das empresas que têm interesse em realizar os investimentos.
Simbi
A Simbi é uma social tech apoiada pelo attix, especializada em gestão do investimento social que, por meio de verba direta ou incentivada, conecta quem pode gerar impacto social do jeito mais inteligente. Ao unir tecnologia com cuidado humano, a Simbi desenvolveu um ecossistema de soluções de investimento social para conectar empresas investidoras e iniciativas sociais no intuito de escalar o impacto positivo na sociedade.
Com o apoio do Mattos Filho, a Simbi amplia o seu alcance e capacidade de gerar impacto social, ao lado de uma rede de profissionais altamente especializada e comprometida com a transformação da sociedade.
Para mais informações sobre o assunto, conheça as práticas de Organizações da sociedade civil, negócios sociais e direitos humanos e de Compliance e Ética corporativa do Mattos Filho.