Crescimento do hidrogênio traz oportunidades em âmbito global
Estima-se que o produto irá abranger até 12% do uso energético global até 2050, podendo contribuir para a descarbonização da economia
A Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês) publicou, em 12 de janeiro de 2022, o relatório Geopolítica da Transformação Energética: O Fator Hidrogênio, no qual realiza uma análise geopolítica e geoeconômica do comércio energético proveniente do crescimento da economia global de hidrogênio.
A Irena estima que, até 2050, o hidrogênio limpo (verde e azul) abranja 12% do uso energético global e que a produção de hidrogênio verde e seus derivados irão representar 30% do total de demanda de eletricidade. A agência também prevê que a partir da década de 2030 se inicie a demanda pela nova fonte energética limpa e que a década de 2020 será marcada pela corrida para a liderança tecnológica.
Segundo dados trazidos pelo relatório, países que antes não comercializavam energia já são partes em acordos bilaterais para construção e operação de infraestrutura para comercialização transfronteiriça de hidrogênio. Por outro lado, países que antes eram tradicionais importadores de energia são potenciais exportadores de hidrogênio verde (por exemplo o Chile, Marrocos e Namíbia). O que se espera é uma mudança geopolítica e geoeconômica, em que protagonistas diferentes dos atuais detentores dos combustíveis fósseis ascenderão, bem como que o mercado seja constituído de participantes novos e diversos, tornando o hidrogênio limpo ainda mais competitivo.
Com isso, vislumbra-se um caminho para maior independência energética e para maior igualdade da descarbonização da economia, sendo necessária a cooperação internacional para viabilizar um mercado transparente e coerente com padrões e normas que contribuam para o combate às mudanças climáticas. Os maiores obstáculos serão os custos, disponibilidade de tecnologia, infraestrutura e investimentos em escala. No relatório, a Irena afirma: “Sem demanda, os investimentos permanecem arriscados demais para a produção em larga escala que poderia reduzir custos, mas, sem economias de escala, a tecnologia vai continuar cara demais” (tradução livre).
Brasil e a produção de hidrogênio limpo
Atualmente, a liderança da corrida tecnológica para o hidrogênio verde pertence à China, porém o Brasil, por exemplo, tem potencial para ser um dos protagonistas no tema em razão dos baixos preços de energia renovável e preços de gás relativamente altos. Desde fevereiro de 2021, memorandos de entendimento sobre o tema foram assinados entre multinacionais e os Estados do Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Além disso, empresas do setor elétrico no Brasil já estão preocupadas com o desenvolvimento da tecnologia no país, com projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) dentro do programa regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Dentre o portfólio de projetos, está o aproveitamento de eólicas offshore, que recentemente teve sua cessão de uso regulamentada pelo Decreto nº 10.946/2022. Também estão sendo conduzidos estudos para a produção de hidrogênio verde a partir de vinhaça, com o intuito de conectar a indústria sucroalcooleira ao novo mercado. Por fim, mas não menos importante, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031 (PDE 2031), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apontou para a possibilidade de exploração e produção de hidrogênio natural. Estudos iniciais localizaram a presença de hidrogênio no solo e poços profundos em diversos estados do país.
Como consequência da tendência global e da inclusão do hidrogênio também no Plano Nacional de Energia 2050, avanços regulatórios e em P&D marcam o início de 2022, que promete ser o ano da corrida para o desenvolvimento tecnológico do hidrogênio.
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*Com a colaboração de Anna Gandolfi, Maria Eduarda Garambone, Gabriel Pereira Bispo de Oliveira, Bernardo Andreiuolo e Mariana Diel.