Juntas, representamos uma única frente
Nós, mulheres, seguiremos na luta contra vieses inconscientes e atitudes indesejáveis para reduzir a grande distância entre a posição em que nos encontramos e aquela na qual merecemos estar
Muita coisa mudou, ao longo das últimas décadas, em relação à participação da mulher na sociedade. Olho para os lados e vejo muito mais mulheres ocupando os mais diversos espaços, inclusive lideranças.
No Brasil, vimos mulheres presidentes dos principais poderes institucionais. Temos uma norma recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que tensiona o aumento de mulheres em tribunais. O mercado de trabalho se mostra cada vez mais aberto para nós, em todos os níveis, inclusive em posições antes reservadas somente a homens – seja por vontade genuína ou por pressão social.
No Brasil e em todo o mundo, há muito mais diretoras, profissionais em posições C-level, personalidades femininas em vários contextos. Até o show business mundial abre espaço para mulheres liderarem premiações e listas de recordes.
Os mais otimistas podem achar que estamos no caminho certo e talvez estejamos. Os realistas, dentre os quais me incluo, acreditam que a distância entre a posição em que nos encontramos e aquela na qual merecemos estar ainda é grande. Seguimos enfrentando muitos desafios, especialmente ao galgar posições de destaque.
Todas nós sabemos a dimensão e o formato dos obstáculos que diariamente superamos: de comportamentos baseados em vieses inconscientes, passando por atitudes indesejáveis, reafirmação de referências masculinas até críticas a mulheres por manifestarem as mesmas características que nos homens são motivo de admiração, entre muitos outros aspectos – dos mais sutis aos mais óbvios.
Gilberto Gil, em uma das canções mais sublimes que compôs, fala, com extrema sensibilidade e franqueza, do dia em que viveu “a ilusão de que ser homem bastaria”. E conclui que a ilusão vivida estava muito longe do que reconheceu ser a sua plenitude, como homem.
Reflito sobre a mensagem do poeta. A nós, mulheres, nunca sequer foi dado o direito de viver essa ilusão. Jamais sequer sonhamos que bastaria ser mulher para obter tudo o que quiséssemos alcançar.
Fato é que nossas histórias são muitas, somos muito diferentes entre si, o tamanho da nossa ambição varia e o que queremos não é o mesmo, mas há algo que nos torna um corpo só: o desejo de que a equidade de gênero se torne realidade.
Sob esse aspecto, formamos um único corpo, desfrutamos de um único desejo, somos uma única frente em busca da simetria de oportunidades, a par de gênero ou de qualquer outro recorte.
Representamos o principal vetor de transformação da sociedade e do mundo. Um mundo ainda desequilibrado, assimétrico e injusto, que pode e deve ser muito melhor para todas e todos.
Ao longo da história, vimos e convivemos com mulheres notáveis que nos ensinaram ou ainda ensinam, todos os dias, que desistir não é uma opção.
Essa narrativa, tão cara para nós, encontra cada vez mais adesão. Não nos sentimos somente “pregando às convertidas”; há um contingente expressivo de aliados que buscam os mesmos resultados e compartilham dos mesmos valores.
Quanto a nós, mulheres, perseguiremos tudo o que o universo tem a nos oferecer. Não sem esforço ou sem dor, mas com a obstinação, a coragem e a sensibilidade que somente uma mulher possui.