Negócios de impacto: entenda sobre a tendência e o cenário de investimentos
Conheça o modelo de negócio que traz soluções socioambientais e os investimentos que estão recebendo
A crescente discussão e engajamento das novas gerações em causas socioambientais tem trazido mais visibilidade aos negócios de impacto social e investimento nos mesmos.
As sócias Flávia Regina de Souza, da prática Organizações da sociedade civil, junto com Marina Procknor, sócia da prática de Fundos de Investimentos, explicam a tendência e a perspectiva de atuação em investimentos sociais no Brasil para os próximos anos.
O que são negócios de impacto?
Segundo Flávia Regina, o que difere negócios de impacto dos demais é o seu principal objetivo: produzir soluções para problemas sociais das populações de baixa renda, bem como gerar impacto por meio de uma plataforma de negócio.
Investimentos sociais “são empreendimentos que visam lucro como qualquer outro, mas focam em resolver essas questões”, explica.
As especialistas explicam que este modelo de negócio existe no exterior desde os anos 70. No Brasil, se popularizou há cerca de dez anos, influenciado pelo projeto de impacto Grameen Bank, o primeiro banco especializado em microcrédito com o objetivo de erradicar a pobreza no mundo, e que garantiu o Nobel da Paz ao economista e banqueiro bengalês Muhammad Yunus.
“Apesar de o conceito de impacto social ainda ser muito confundido com filantropia e responsabilidade social, é um movimento que veio para ficar.
Daqui a algumas décadas, negócios de impacto e investimentos sociais deixarão de ser exceção e se tornarão a regra geral, já que as próximas gerações vão cada vez mais demandar que as empresas sejam conscientes, com mais propósito, visando além de somente a métrica financeira”, complementa Marina Procknor.
Em 2010, Marina passou seis semanas em Bangladesh sendo mentorada pelo próprio Muhammad Yunus para trazer seus conceitos ao Brasil.
Como funciona a regulação de negócios de impacto no Brasil?
Não existe no Brasil uma legislação específica que caracterize esse tipo de negócio.
Segundo Flávia Regina, algumas iniciativas se aproximam de uma regulação, como o selo Empresa B, que certifica empresas com desempenho social e ambiental relevantes; e o grupo ENIMPACTO (Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto), composto por órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil que busca promover um ambiente favorável para negócios de impacto e investimento nos mesmos.
Marina Procknor acredita que a definição de uma regulação específica pode acontecer no Brasil, mas a longo prazo. “As instituições são muito antigas e, para que haja regulação, primeiro é necessário que se defina um conceito oficial de negócio de impacto”, afirma a sócia.
“Estamos em uma fase em que cada um tem uma definição diferente do que é negócio de impacto, alguns gestores acreditam que só pelo fato de gerarem emprego já podem ser classificados dessa forma, por exemplo”, complementa.
Investimentos sociais e negócios de impacto
Como investimentos sociais e fundos de impacto são algo relativamente novo no país, grande parte das empresas estão em estágio inicial.
“Para esses negócios escalarem mais rapidamente e crescerem, muitas vezes aderem a uma plataforma de fundos que investe exclusivamente em negócios de impacto”, explica Flávia Regina.
A PIPE, uma plataforma-vitrine que conecta negócios com investidores, divulgou este ano o Mapa de Negócios de Impacto Social+Ambiental, um estudo com 1002 empreendimentos de impacto que mostrou que 81% deles estão captando recursos, porém, do total, pouco mais da metade (58%) possui de fato receita de terceiros.
Mesmo em estágio inicial, Flavia defende que tais empreendimentos façam uma avaliação criteriosa estrutural: “A tese pode ser muito boa, mas se o negócio não está minimamente bem estruturado não vai para frente.
É necessário olhar para governança, questões jurídicas, questões trabalhistas. Essas empresas devem lembrar que, independentemente de investimentos sociais não deixam de ser um negócio”, completa a sócia.
Crowdfunding e Private Equity
As ferramentas existentes para captar recursos para investimentos sociais ainda são pouco utilizadas, ocupando pequena parcela do capital total investido no negócio. Crowdfunding representa 8%, enquanto private equity e venture capital somente 2%, por exemplo.
Para Marina Procknor, os investidores no geral ainda são céticos a respeito porque querem ver métricas do impacto socioambiental e estas não podem ser medidas a curto prazo.
A tendência, entretanto, é que a democratização no acesso ao investimento seja cada vez maior: “Cada vez mais existirão instrumentos de trazer o empreendedor para o financiador dele, mais formas de acesso para receber o aporte. Já existem vários formatos possíveis para participar e não necessariamente é ticket muito alto”, explica.