B3 anuncia nova metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial
Índice sofreu profundas transformações para se adaptar às novas exigências dos investidores e da sociedade quanto aos critérios ESG
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A Brasil, Bolsa, Balcão (B3) anunciou, em 20 de julho de 2021, a nova metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), já válida para a formação da carteira para o ano de 2022. O anúncio vem consolidar uma reforma profunda do ISE, iniciada em 2020, e firmar posicionamento relevante em direção à adoção dos critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) no âmbito do mercado de capitais nacional.
Criado em 2005, o ISE surgiu como uma iniciativa pioneira na América Latina, buscando propiciar um ambiente de investimento voltado para cumprir as demandas do desenvolvimento sustentável e estimular a responsabilidade ética das corporações, além de criar um benchmark de empresas que promovem práticas de sustentabilidade empresarial. Assim, desde sua fundação, prezou por avaliar as companhias muito além dos seus indicadores financeiros.
Processo de aprimoramento
Em 2020, o ISE iniciou seu processo de aprimoramento, focando em aumentar a transparência das empresas e em apresentar métricas mais objetivas para a mensuração do impacto socioambiental. Após amplo processo de consulta pública, o lançamento do ISE 2.0 neste mês de julho vem consolidar o processo de transformação, com a finalidade de reformular a metodologia adotada até então, bem como adequar o índice às novas demandas provenientes do mercado e da sociedade, posicionando-o como uma referência em critérios ESG no mercado brasileiro.
Ao longo do processo, o questionário 2021 passou por uma grande reforma, sendo reduzido em quase 40% se comparado com a versão 2020, a fim de focar na materialidade das informações prestadas. Essa revisão também buscou alinhar o questionário com metodologias de reporte de sustentabilidade internacionalmente reconhecidas, notadamente o Global Report Initiative (GRI).
O novo questionário ISE B3 está estruturado em torno de seis dimensões:
- Capital humano: voltada para práticas trabalhistas, saúde e segurança, engajamento, diversidade e inclusão de colaboradores;
- Governança corporativa e alta gestão: com foco na gestão de riscos, gestão para a sustentabilidade, práticas de governança corporativa e ética;
- Modelo do negócio e inovação: a fim de avaliar resiliência do modelo de negócio, eficiência no uso de materiais, gestão da cadeia de fornecimento e finanças sustentáveis;
- Capital social: trata de respeito aos direitos humanos, relações com as comunidades, investimento social privado, cidadania corporativa, segurança, bem-estar e privacidade do cliente;
- Meio ambiente: avalia políticas e práticas de gestão ambiental, impactos ecológicos da atividade empresarial, gerenciamento de recursos naturais, gestão de resíduos;
- Mudança no clima: não há questões, sendo avaliado mediante Score CDP-Clima.
Destaque-se que o questionário também passa a se pautar pela setorização. Agora, o tema é considerado material quando é relevante para a capacidade de geração de valor das empresas de determinado setor, no curto, médio e longo prazo, considerando também riscos decorrentes de falhas na gestão de possíveis impactos socioambientais negativos e riscos reputacionais decorrentes de conflito com as expectativas da sociedade. Assim, o questionário se adapta ao setor de atuação do respondente.
Novidades do ISE
Uma das principais novidades do ISE 2.0 é a inclusão da necessidade de obtenção de nota de corte “C” no Carbon Disclosure Project (CDP) e no RepRisk, organizações com reconhecida reputação internacional. O CDP é uma entidade sem fins lucrativos inglesa voltada à divulgação de dados sobre performance ambiental de empresas e cidades, enquanto o RepRisk é uma companhia de atuação mundial pautada em inteligência artificial. Os dados de risco do RepRisk ESG de empresas brasileiras agora estão integrados ao algoritmo de seleção e pontuação do ISE B3 e serão usados nos processos de triagem e monitoramento do portfólio.
Além disso, o índice introduziu, à luz das críticas recorrentes do mercado, o rebalanceamento quadrimestral da carteira anual, a fim de monitorar, de forma mais frequente e atenta, eventos que possam gerar exclusão. A essas iniciativas, une-se o monitoramento contínuo das empresas listadas, que deverá ser realizado de forma transparente ao público e investidores, especialmente mediante a criação do Dashboard ESG, onde serão publicadas para acesso amplo as informações sobre todas as companhias que preencherem o questionário, não apenas aquelas incluídas na carteira anual. A partir do novo questionário, o ISE sofistica sua metodologia, com foco especial em materialidade e transparência das informações, ponto duramente criticado pelo mercado até então.
O índice passa a se basear, então, em um Score ESG, que permitirá o ranqueamento das companhias a partir de uma nota de corte calculada de forma objetiva e pública pela ferramenta Dashboard ESG, à similaridade do que já é praticado no mercado por alguns agentes de ranking e avaliação (como MSCI, Sustainalytics e a própria S&P Dow Jones Indexes). O Score ESG definirá, ainda, o peso de cada companhia na carteira, superando o paradigma anterior, com base no valor de mercado, que privilegiava as companhias de maior vulto face às menores do Índice.
Embora ainda exista um longo caminho a ser percorrido em relação ao tema no Brasil, o ISE 2.0 elaborado pela B3 é uma evolução para avançar no progresso da agenda ESG no país, trazendo um parâmetro nacional cada vez mais confiável.
Para mais informações sobre o Índice de Sustentabilidade Empresarial, conheça a prática de ESG do Mattos Filho.