Ambev: conheça a história da primeira grande transação de M&A do país
O nascimento do conglomerado revolucionou o setor no país, inspirou outros negócios e abriu portas para a prática de Societário/M&A do Mattos Filho, que conduziu o caso assessorando a Antarctica
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Há 20 anos, surgia a maior empresa de bebidas do Brasil. A fusão entre as concorrentes Antarctica e Brahma impactou o mercado à época, dada a surpresa da união de duas rivais que protagonizavam um Fla-Flu no domínio de quase todo o comércio de cerveja nacional. Deseja entender em detalhes como o Mattos Filho conduziu a operação jurídica de M&A que deu origem à Ambev? Acompanhe o artigo!
O começo
O nascimento da Ambev revolucionou o setor no país, inspirou outros negócios e abriu portas para a prática de Societário/M&A do Mattos Filho, que conduziu a megaoperação assessorando a Antarctica.
A ideia do negócio surgiu de forma despretensiosa, durante um almoço entre os CEOs de cada empresa. Sua concretização, porém, foi extremamente ágil.
O maior desafio, segundo Ary Oswaldo Mattos Filho, que liderou com Moacir Zilbovicius os trabalhos do escritório na fusão, era manter o extremo sigilo da união das empresas, o que demandava grande efetividade e velocidade dos envolvidos na negociação.
A negociação
Durante as negociações, cerca de vinte profissionais trabalharam em torno de três semanas fechados em uma sala.
O objetivo da operação-secreta era minimizar quaisquer possibilidades de vazamento de informação. “A gente entrava de manhã e, à noite, saía com voto de silêncio”, lembra Ary. A pasta do caso trazia outro nome para que ninguém soubesse do projeto.
Os assuntos que envolviam a transação da Ambev tiveram de ser priorizados.
“As empresas eram muito grandes. Cada uma tinha dezenas de fábricas de cerveja e de refrigerantes, uma quantidade imensa de empregados… Então, você tinha diversos problemas, como trabalhistas, comerciais, porque quem vendia Brahma não podia vender Antarctica”, explica Ary. Por esse motivo, foi tomada a decisão de fechar o contrato com a premissa de que alguns pontos seriam alinhados posteriormente.
A expertise jurídica Mattos Filho
Para Moacir, a principal estratégia que viabilizou a concretização da megaoperação foi a agilidade. “Para fazer algo desse tamanho, foram muito poucos dias. Eu acredito que as duas empresas tiveram a sabedoria de fazer uma coisa rápida”, afirma.
“Algumas vezes, operações muito sofisticadas se perdem pela incapacidade de as partes abrirem mão de detalhes. Se aquilo começasse a entrar em um detalhe muito grande, o vazamento poderia acontecer e aí perderíamos o controle da operação”, completa.
O anúncio antecipado
Na sala de operação, havia um quadro com os nomes mapeados de quem deveria ser informado sobre a fusão, começando pelo Presidente da República e passando por diversas autoridades. As negociações corriam para a concretização do deal em tempo recorde.
Em um momento em que o caso já estava bem adiantado, o preço das ações das empresas começou a variar de forma atípica.
Uma jornalista procurou por um dos profissionais envolvidos na operação sondando a possível fusão entre Brahma e Antarctica, que foi negada. “Em função disso, se antecipou em uma semana o anúncio, ou seja, dois dias depois daquela ligação, em 48 horas, a gente teria de terminar tudo”, lembra Moacir.
O contrato estipulou, entre diversos temas, que a gestão da Brahma seria implementada na Ambev. A Antarctica seguiria com sua marca em rótulos e as receitas permaneceriam as mesmas.
A megaoperação se tornou capa dos principais veículos de comunicação do país. Toda a visibilidade do intenso trabalho abriu portas para o Mattos Filho. “Foi a primeira grande transação de M&A no país e o mais interessante foi que ela uniu rivais em uma área em que a competitividade é enorme. Foi um trabalho muito especial para o escritório”, conclui.